DEPOIMENTO DE PACIENTE E AMIGO.
Uma das coisas que mais me motivam a amar Oncologia, são os depoimentos que recebo. Esse em especial, iniciou por ser paciente, no decorrer do tratamento virou um amigo querido que me ajudou na minha vida particular que, você leitor, entenderá na terceira parte da publicação.
Hoje, nessa primeira parte, vou apresentar a situação: Foi um paciente de Quimioterapia adjuvante, com 65 anos em 2011, Ca de Câncer de Cólon e Médico Cardiologista.
1 PARTE: A descoberta e a corrente do bem.
Se você esta lendo estas linhas provavelmente conhece algum
familiar ou amigo com câncer. De coração espero que não seja você com câncer.
Se estiver, então você e eu já trilhamos algum caminho juntos.
Tenho 65 anos bem vividos e com muita saúde, apenas alguns
resfriados ou gripes ocasionais, nesse sentido até agora fui muito privilegiado
pela vida. Algum tempo atrás notei que as minhas fezes tinham mudado de cor,
eram mais obscuras, como médico, sei que isso pode ser ocasionado por algum
sangramento, “são hemorroidas” pensei. Relutei algum tempo antes de marcar uma
consulta com um amigo e colega, ele me aconselhou fazer uma colonoscopia.
Com desânimo aceitei o tal exame que considerava chato e
inútil.
No dia da colonoscopia tomei uns comprimidos e apaguei.
Quando comecei a novamente ter consciência
vi a minha esposa que me disse que eu tinha que fazer outro exame radiológico em
outro local e que ela já tinha marcado e que seria feito imediatamente...nesse
momento soube que algo estava errado.
Meia hora mais tarde eu estava em frente a uma imagem que eu
já vi tantas e tantas outras vezes, costumava a observar essas imagens com
serenidade e critério cientifico, frio talvez. Hoje estava em frente a essas
imagens, porem eram minhas imagens!
Observava a silhueta de um tumor não maior que uma bola de
tênis. “Pode ser benigno” pensei, as margens nítidas e outras características indicavam
esse diagnostico.
Três dias depois o diagnostico anatomopatológico confirmava
ADENOCARCINOMA DE COLON.
Parecia que o mundo havia terminado, a minha vida tinha
chegado ao fim. Mais rápido do que eu queria. Justamente agora que eu tinha uma
vida altamente produtiva, faço o que mais gosto, me dedico à docência, tinha
marcado aulas em Colômbia, Argentina, Espanha e Polônia.
Tudo em um segundo acabou.
Nos seguintes dias chorei, gritei, entrei em desespero,
briguei com Deus, joguei fora todas as pequenas coisas que eu guardava como meus
tesouros. Não as necessitaria mais.
Embora como médico eu soubesse que hoje o câncer tem tratamento,
o desespero foi igual. Como médico frente a um paciente você fala de porcentagem
de insucesso.
Nós médicos, quando estamos frente a um doente, esprememos nosso
cérebro em busca de conhecimento lido algum dia, a experiência aparece forte e
tentamos dar o melhor que nós temos. Mais não somos Deuses (embora as vezes
acreditássemos nisso) fazemos apenas o que podemos. E quando é nossa vez de
sermos pacientes, todos os conhecimentos negativos aparecem e dominam nosso cérebro.
Apenas lembramos as coisas negativas da nossa arte, aumentando nosso
sofrimento.
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